Havia um rei cujo exército estava em guerra. A luta era
contra os povos que tentavam invadir suas terras. Aquele rei, que tinha sido um
excelente soldado no passado, agora um tanto cansado permanecia no palácio, recebendo
notícias da frente de batalha através de seus mensageiros. Não que fosse um
homem velho, porque isso ele não era, mas pensava que depois de tantas
conquistas merecia permanecer em seus aposentos.
Como era o rei, a ninguém mais cabia qualquer opinião. Foi
então que num belo dia, enquanto passeava no terraço de seu palácio, avistou
por cima do muro uma mulher que se banhava em sua casa. Impressionado com sua
beleza, o rei logo tratou de trazê-la à sua presença. Ao conversar com ela,
soube que se tratava da esposa de um dos seus mais valorosos soldados, o qual
se encontrava, juntamente com o restante do exército, no campo de batalha.
Aproveitando-se da situação e crendo que ninguém descobriria
sua trama, o rei tomou aquela mulher como sua e a obrigou a dormir aquela noite
com ele no palácio. No dia seguinte, o rei a despediu bem cedo, procurando
esquecer o fato. Recomendou que ela guardasse segredo e que voltasse para sua
casa, como se nada tivesse acontecido. Alguns meses depois, tudo parecia estar
em ordem. O rei já nem se lembrava mais daquela noite.
Um dia, a mulher retornou ao palácio. Aflita, desejava uma
audiência particular com sua majestade. Alegava que o assunto era muito grave.
O soberano a recebeu em particular. Assim que ela entrou, revelou que estava
grávida. Foi como se o céu desabasse sobre a cabeça do rei!
E agora, como seria quando o marido voltasse da guerra, e
encontrasse sua mulher grávida? Certamente a levaria à corte e, de acordo com
as leis, ela seria declarada adúltera e punida com a morte!
Como salvá-la e também a criança, sem revelar o pecado que
havia cometido? O rei estava aflito, sem poder se consultar com qualquer um de
seus súditos! Foi então que ele teve uma ideia para encobrir o problema. Por
que não chamar o soldado urgentemente e dar-lhe alguns dias de folga? Vindo
para casa, naturalmente possuiria sua esposa, e, quando voltasse da guerra e a
encontrasse grávida, pensaria que a fecundara no dia de sua folga.
Assim, o soldado foi, por ordem real, trazido ao palácio.
Após ter tido a honra de jantar com o rei, recebeu ordem para que aproveitasse
sua folga em casa, com a esposa. Ao se despedir do soldado, o rei tinha a
certeza de que tudo estava resolvido. Na manhã seguinte, porém, teve uma grande
surpresa. Sua majestade encontrou o fiel soldado dormindo à porta do palácio.
- O que é isso, homem?
Não te trouxe eu de volta da guerra para que tivesses a
recompensa de estar em tua casa, com tua mulher?
Que fazes deitado à porta de meu palácio? - disse o rei,
indignado.
- Majestade, sinto-me honrado por tudo quanto Vossa Excelência
me proporcionou. Ocorre, porém, que ontem à noite, quando deixava o palácio,
senti-me imensamente pesaroso pelo fato de estar indo ao encontro da mulher que
amo, enquanto meus companheiros dormiam ao relento da noite, acampados pelas
colinas, a lutar pela paz de nosso país.
Decidi, portanto, dormir à porta do palácio, a fim de que de
alguma forma, ao sentir o vento da noite, pudesse compartilhar a dor de meus
companheiros - respondeu o soldado.
O rei se sentiu envergonhado. O que dizer a tão nobre
guerreiro?
Mais do que nunca passou a temê-lo. Não podendo quebrar sua
fidelidade para com seus companheiros de guerra, ele o enviou de volta à frente
de combate. Antes de partir, porém, o rei deu-lhe uma carta lacrada, para ser
entregue ao comandante do exército. Sem saber, o soldado levou sua sentença de
morte.
A carta determinava que ele fosse colocado na frente mais
cruel da batalha. Lá, veio a morrer em ação. O rei se casou com a viúva. Enfim,
tudo resolvido, pensou ele. Passado algum tempo, quando novamente a paz reinava
no país, sentado o soberano em seu trono, um profeta trouxe-lhe uma causa
curiosa:
- Apenas uma ovelha, uma única ovelha, era tudo o que um dos
servos fiéis de vossa majestade possuía. O pobre homem cuidava dela com todo
amor, pois era tudo o que tinha na vida. Amava-a como o bem mais precioso que
Deus lhe dera. Um dia, um homem rico, dono de vastos rebanhos, tendo recebido
visitas em sua casa, não querendo desfazer-se de uma de suas ovelhas, mandou
que apanhassem e preparassem a ovelha daquele pobre homem.
Interrompendo, o rei indignado exclamou:
- Que caia sobre mim a punição de Deus se ainda hoje eu não
tirar a cabeça de tal homem! Toda corte se calou diante do furor do rei. O
homem que cometeu tamanho desatino jamais escaparia com vida. Antes que os
soldados saíssem em busca do tal criminoso, o profeta disse ao rei:
- És tu o homem a quem me refiro, ó rei! E com as tuas
próprias palavras condenastes a ti mesmo!
O rei que se condenou à morte é nada mais nada menos que o
rei Davi. Deus o perdoou, porém a punição de seu erro foi talvez uma das
maiores aplicadas na Bíblia. Seu pecado cometido em oculto foi trazido à luz do
sol, e aquilo que o rei tanto queria esconder, ainda hoje, aproximadamente
quatro mil anos depois, é assunto nesta história.
Disse Jesus: Nada há
oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser
conhecido e revelado. (Lucas 8: 17)
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