terça-feira, 10 de julho de 2012

O ferreiro


Era uma vez um ferreiro que, após uma juventude cheia de excessos, resolveu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos trabalhou com afinidade, praticou a caridade, mas, apesar de toda sua dedicação, nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.

Uma bela tarde, um amigo que o visitara e que se compadecia de sua situação difícil comentou: É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda a sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.

O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar e terminou encontrando a explicação que procurava.

Disse o ferreiro: Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isto é feito?

Primeiro: Eu aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que fique vermelha.
Segundo: Sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada.
Terceiro: Eu a mergulho num balde de água fria, fazendo a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura.
Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: Uma vez apenas não é suficiente.

O ferreiro então deu uma longa pausa e continuou: Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada de minha ferraria.

Mais uma pausa... E o ferreiro concluiu: Sei que estou passando pelo fogo.
Tenho recebido muitas marteladas nesta vida, e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz o aço sofrer.
Mas a única coisa que eu peço ao Senhor Jesus é: Meu Deus, não desista de mim... Até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera...
Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro-velho das almas...

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