quinta-feira, 1 de março de 2012

O presente

Conta-se que há muitos anos havia um rei bondoso e amado por todos os seus servos. Reinava sobre uma das regiões montanhosas mais belas do mundo, atualmente conhecida como Pirineus, na fronteira da Espanha com a França.

Por ocasião do tempo da plantação, quatro jovens guerreiros se reuniram e decidiram que cada um deles procuraria um valioso presente,

o qual pudesse ser oferecido ao rei na grande festa anual da colheita, repetida naquele reino de geração em geração.

O mais velho, que era também o mais bonito, decidiu que partiria para Cashmere, país muito distante, mas famoso por sua seda, a fim de conseguir o mais lindo traje real. Por seu belo porte, sabia que poderia facilmente ingressar no mundo artístico, o que lhe daria condições para comprar o valioso presente para o rei.

O segundo, que era o mais forte de todos, resolveu ir à Germânia, país famoso por suas armas, objetivando conseguir a mais extraordinária espada com a qual o rei pudesse se defender. Por sua força descomunal, sabia que, exibindo sua força em shows ou apostando dinheiro em si mesmo em lutas, poderia pagar sua jornada e comprar o valioso presente real.

O terceiro, um inspirado poeta e exímio músico, decidiu que viajaria para a Áustria, à procura do mais perfeito instrumento de cordas, cujo som encantaria o rei e alegraria a festa da colheita. Como era um grande artista, confiava que poderia ganhar bastante dinheiro, tocando e cantando para grandes audiências.

O quarto rapaz, que não tinha nenhuma das qualidades dos outros, nem outra qualquer que pudesse fazê-lo notório, sentiu-se desencorajado a partir em busca do tal presente. Mas como amava muito o rei, fez uma oração a Deus, para que não lhe permitisse se apresentar no dia da festa com as mãos vazias. Assim, os três talentosos jovens partiram e o quarto permaneceu no reino, a serviço do rei.

O tempo para a colheita era normalmente de três meses. Aconteceu, entretanto, que naquele ano as chuvas tão esperadas para abençoar a plantação não vieram, e uma terrível seca começou a ameaçar aquele próspero país. O rei decidiu que a única maneira de salvar a plantação seria cavar um canal que trouxesse a água de um lago do alto da montanha, para regar toda a extensa área cultivada.

Seria um trabalho exaustivo e que precisaria ser iniciado imediatamente, e com todas as forças, antes que a falta da água destruísse completamente as sementes. Os homens do reino, juntamente com suas carroças e animais, foram incansáveis naquele trabalho. Destacava-se, porém, dentre eles o quarto rapaz, aquele que não havia viajado, que dia e noite cavava o chão e removia a terra, para a construção do canal.

O próprio rei montou uma barraca junto ao local da obra, onde pessoalmente providenciava que fossem servidas as refeições em respostas as ferramentas. O tempo era seco e o calor sufocante. Muitos adoeceram, devido ao rigor daquela tarefa. Aquele jovem, contudo, multiplicava-se entre aqueles milhares de operários, prolongando seu serviço até a noite.

Enfim, após exaustivas jornadas, o povo daquele reino comemorou com grande alegria a chegada das águas no campo, trazendo fertilidade e uma abençoada safra. Na tradicional festa que se seguiu à colheita, o rei, como de costume, reuniu toda a população ao redor do palácio. Era a ocasião na qual recebia muitos presentes.

Aquele que trouxesse o presente que mais agradasse ao rei, recebia a honra e ter seu nome escrito no livro dos ministros do reino, e, assim, passava a fazer parte do conselho real, com direito a morar no palácio. Muitos se apresentaram, até que chegaram os jovens que tinham viajado para reinos distantes, para escolherem seus presentes.

O primeiro, o mais bonito, chegou vestido com roupas tão lindas que provocou a admiração de todos. Trazia uma linda veste de seda vermelha para “Sua Majestade”.
O segundo, o mais forte, trouxe de presente uma linda espada, feita especialmente para o rei.
O terceiro rapaz se aproximou do trono entoando uma maravilhosa melodia, executada em um violino perfeito e absolutamente extraordinário, cujo som encantava a todos. Era este o seu presente.

O rei os conhecia e estimava, e se lembrava também que sempre formaram um grupo de quatro, freqüentemente juntos. Perguntou, então, pelo quarto amigo. O quarto jovem, que calado assistia a tudo, levantou-se e disse ao rei: – Amado soberano, quando meus amigos partiram em busca de grandes presentes, fiquei triste.

Não sendo belo, nem forte, e nem habilidoso músico, senti-me desencorajado a partir. Ainda que tenha feito uma oração a Deus, pedindo que me desse forças para não me apresentar neste momento de mãos vazias diante de ti, ó rei, a quem tanto amo, devo dizer que nada tenho que possa agradar Vossa Majestade.

O nobre rei, que pessoalmente havia observado todo o esforço daquele rapaz na escavação do canal, respondeu: – Nosso bom Deus jamais deixa de responder a uma oração sincera, de um coração cheio de amor. Aproxime-se do trono e me deixe ver de perto as suas mãos. Então, segurando as mãos do rapaz, explicou: – O Senhor ouviu a sua oração.

Você tem aqui em suas mãos, feridas calejadas, as marcas do serviço anônimo, desinteressado e fiel, motivado por um coração cheio de amor e imbuído do mais puro desejam de servir.

As vestes tão lindas que recebi na verdade me lembram a vaidade fútil dos que a usam, e com elas se exibem.
A espada me traz à mente a violência e a arrogância dos que confiam na sua própria força.
O violino traz a música tão apreciada para os momentos de festa, porém nada mais que isto, e, acabado o seu som, resta apenas o silêncio.

As suas mãos, porém, lembram-me o trabalho, o esforço e o amor ao próximo. Os frutos que disso advêm permanecem para sempre. Vejo nelas o mais lindo de todos os presentes. Você, portanto, é o meu escolhido! Nomeio-lhe agora meu ministro e conselheiro – disse o monarca, diante de todos.

Quem quiser agradar ao Senhor deve considerar atentamente esta história. Não há nada mais grandioso que um coração puro e humildade diante de Deus.

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